Mergulhando na Imensidão

 Cresci ouvindo meus pais dizerem “o medo não existe”. Então o que é aquilo que nos faz dar um passo para trás, que nos faz pensar duas (ou cinco) vezes, que cria uma barreira entre o momento presente e o momento desejado? É o desconhecido! A maioria da pessoas vive no conhecido, vive no estável, vive no controle. Isso não é problema nenhum mas certamente te afasta de uma zona onde é possível descobrir coisas maravilhosas, a zona do desconforto. E somente quando estamos no desconforto é que nos movemos, é que criamos, é que fazemos coisas diferentes, é que enxergamos com mais perspectiva, é que novas ideias são geradas. A zona de conforto te mata lentamente e o ser humano só pode agir verdadeiramente quando está fora dela. Quando tudo está certo e no controle é quando você para de buscar por algo novo e é quando você perde as oportunidades.

Tudo isso para falar que eu estava muito bem na praia de Tofo. Tão bem que planejei 5 dias e fiquei 10. Não deveria ser um problema, afinal estou viajando sem roteiro e sem hora marcada para ter a liberdade de ficar o tempo que eu quiser onde quiser. Mas comecei a notar que o fato de eu não seguir em frente era porque estava tudo muito cômodo. Eu conhecia todo mundo, sabia andar pra cima e pra baixo, os locais já me chamavam de brasileira. Todo dia de manhã caminhava até minha escola de mergulho, fazia as aulas, ia pro fundo do mar, voltava e almoçava em um restaurante vegetariano bacana, final da tarde ia na praia ver o sol se por e me preparava pro dia seguinte tomando um drink de Amarula. Claro que estava difícil seguir em frente, quem quer largar uma vida boa dessa? 

Qualificada PADI Open Water

  

Mergulhadora =)

Eu estava na zona de conforto! Como isso chega sorrateiro e se instala rápido! Resolvi que no dia seguinte eu seguiria viagem. Voltei pra casa, paguei a conta, fiz as malas. Fui me informar como que eu poderia chegar até Vilanculos, o suposto paraíso moçambicano. Descobri!

1. Pegar uma carona até a estrada para não ter que carregar minha mala pesada. 

2. Aguardar na beira da estrada uma chapa (vide poste anterior para foto) que me levaria de Tofo até Inhabane, levando em consideração que o sol africano já estaria ardendo por volta das 7h15.

3. Caminhar 20 min até o píer para pegar um barco – leia-se barquinho de alumínio que pode afundar a qq momento. 

4. Cruzar o canal para cidade de Maxixe. (Foto)

5. Caminhar até a praça central.

6. Procurar e negociar o preço por outra chapa que me levaria até Vilanculos em 6 horas.

7. Pegar um Tuk Tuk que com sorte me levaria ao hostel por um preço justo. (Foto)

Agora imaginem tudo isso na terra de ninguém, sem mapa e sem nenhuma estrutura. (Foto)

 

Olhe nos olhos de cada uma das 9 pessoas na foto

  

Após 10 horas de aventura, cheguei!

 

Beleza misturada à aventura

Ééééééé. Acho que o medo existe! Mas existe apenas como um alerta para que a gente possa tomar cuidado com o que faz e onde pisa. Vambora! Dia seguinte lá estava eu, seguindo os passos de 1 a 7 e quando cheguei no passo 8 (colocar a mala no quarto e andar por aí) foi que eu pensei que nunca mais deixaria de fazer algo por medo do desconhecido. Meu Deus, que lugar maravilhoso! Quando eu olhei toda aquela vastidão, aquele horizonte, todos os tons de azul, os pescadores, os barquinhos me dei conta do que estaria perdendo se tivesse ficado ou pior, voltado para capital.

O medo não leva ninguém a lugar nenhum, muito pelo contrário, é um mecanismo de defesa que faz você ficar exatamente onde está para que esteja sempre em segurança e fora da zona do desconforto. O mundo é vasto e cheio de oportunidades!!! Não se deixe levar pela mente, o coração agradece! 

 

Que vista!

  

Tranquilidade, a gente vê por aqui!

 
 

Jardim de casa